Noite de Natal
As famílias são todas diferentes, mas há ciclos e etapas pelos quais todas passam.
Uma etapa difícil é a do luto, que o Natal parece ter o poder de reactivar.
De facto, é nesta época que mais sentimos a falta dos avós, dos bisavós, dos pais, ou de outros elementos que em tempos nos foram tão queridos. Felizmente as famílias crescem, reconstroem-se, multiplicam-se, vão aparecendo filhos, netos, e outras pessoas de quem gostamos muito e com as quais construímos novas memórias. É este afecto pelos novos elementos que nos ajuda a superar as perdas dos mais velhos, de quem passamos a lembrar-nos com mais serenidade.
É por isso que gosto, não só do Natal, mas de outras ocasiões em que as famílias se juntam, criam bons momentos e boas memórias. Ontem, depois do jantar, os sofás encheram-se de guitarras, tambores, pianolas e outros instrumentos. Foi um bom momento de família, por isso escolhi-o para meu contributo no desafio USkp deste mês.
TAU
A descrição do João Santos é certeira. Olhar à volta, escolher a presa e tau, desenhá-la. Por vezes, no fim, gosto de ir mostrar. Mas só quando há tempo, quando as pessoas têm um ar simpático, ou quando são velhotes ávidos de dois dedos de atenção. Noutras vezes, como neste desenho, nada disso acontece.
12 minutos é o tempo de secagem das máquinas das lavandarias.
12 minutos para fazer um desenho, com o supremo desafio de que a pessoa não se aperceba de que está a ser desenhada. Todos sabemos os truques: toca de semicerrar os olhos, olhar atentamente para o que está em redor, fingir um genuíno interesse, neste caso, pelas máquinas de lavar.
Ah, mas, em tão pouco tempo o desenho não vai ficar bem! Paciência, faz-se na mesma!
E é assim, desenho a desenho, página a página, que guardamos a vida das cidades nos nossos cadernos que, talvez um dia, venham a ser testemunhos reais dos hábitos e dos costumes da nossa sociedade.
Não é um desafio incrível?
Desenhando a Real Filarmónica da Galícia
Santiago Rios é um engenheiro de minas que gosta de desenhar ao vivo, nos concertos a que assiste. No seu Workshop da Compostela Ilustrada, propôs que desenhássemos o ensaio geral Filarmónica da Galicia da Carmen, com projecção simultanea da "Carmen" de Cecil B.deMille e da "Paródia de Carmen" de Chaplin. Foi um desafio difícil, não tanto por não haver luz, ou por os músicos estarem longe, ou serem muitos, mas porque foi uma experiência verdadeiramente emocionante e tão bela que, se apetecia muito registar, apetecia tanto ou mais disfrutar, sem ter que gerir os pinceis, as canetas, aguarelas ou, melhor dizendo, para a tralha toda!
Las cubiertas de la Catedral
No sábado de manhã, no âmbito da Compostela Ilustrada, tive a sorte de orientar um Workshop nos telhados da Catedral de Santiago de Compostela. Fiz alguns desenhos durante uma primeira visita guiada num dia anterior, que tive que aguarelar mais tarde pois não era permitido afastar-me do grupo de visitantes. O último, fiz no próprio sábado, em conjunto com os simpáticos desenhadores que se inscreveram no meu grupo.
São Pedro de Moel
NÃO VAMOS ESQUECER
Senti-me desolada, inconformada, triste e revoltada com o modo como os incêndios deixaram o nosso país. Mas senti-me acima de tudo impotente. E irritada porque, se a memória não me atraiçoa, sei que nos esquecemos todos muito rapidamente destas coisas, porque não estamos lá. Basta outro tema ser posto em palco e zás, esquecemo-nos!
E foi assim que me pus a caminho. "Mas o que vais fazer com isso?" perguntavam-me. Não sei, mas alguma coisa tenho que fazer".
Lembrei-me então que se algum jornal ou revista publicasse os meus desenhos sobre incêndios durante um longo período de tempo, isso poderia ajudar alguém a não esquecer.
E muito melhor seria se todos, de norte a sul, fizessem um desenho in loco sobre um incêndio, um rescaldo, uma aldeia, uma vítima ou uma comunidade atingida e se todos eles fossem publicados. Juntos seriamos mais fortes.
E foi assim que me pus a caminho. "Mas o que vais fazer com isso?" perguntavam-me. Não sei, mas alguma coisa tenho que fazer".
Lembrei-me então que se algum jornal ou revista publicasse os meus desenhos sobre incêndios durante um longo período de tempo, isso poderia ajudar alguém a não esquecer.
E muito melhor seria se todos, de norte a sul, fizessem um desenho in loco sobre um incêndio, um rescaldo, uma aldeia, uma vítima ou uma comunidade atingida e se todos eles fossem publicados. Juntos seriamos mais fortes.
O Público online aceitou publicar os nossos desenhos, um a um, durante tanto tempo quanto possível.
Porque é sério, porque é grave, desta vez NÃO VAMOS ESQUECER!
O jardim da Compave
Em dias de tédio, vou à varanda, ou desço lá abaixo, com pinceis ou canetas escolhidas quase à toa, e desenho o jardim, às três pancadas. . A Compave, como é chamado. As memórias deste síto exigem que um dia faça um desenho melhor. Por enquanto, só saiu isto...um amontoado de coisas que se mesclam e sobrepoem confusamente. Como as memórias, talvez...
É Outono
De há uns anos para cá o Outono já não é aquela coisa de dias lindos, tranquilos, com uma luz tépida e suave mas ainda luminosos, a encurtarem progressivamente até ao dia da machadada final: esse horror da mudança da hora que algum pérfido ser inventou e que nunca me conseguirão enfiar na cabeça que é para poupar energia.
O Outono é apenas, quando a Sidónio Pais fica cheia destas castanhas selvagens, ou de jardim, que não servem para comer, mas - dizem os entendidos - afugentam as traças e se devem pôr no roupeiro.
Não sei se é verdade ou não, mas são lindas, gordas, brilhantes, e têm uma cor quente que não se consegue imitar. Apanhá-las é um vício irresistível e, enquanto o faço, sinto aquele regozijo de que mais um ano passou e tudo se repete sem mudanças. Porque será que - gostando eu tanto de mudar, de viajar, de fugir ao tédio dos dias sempre iguais - gosto tanto destas coisas rotineiras?
E é no Porto que começa a viagem. Ou não?
Muitos são os caminhos de Santiago: o Francês. o da Costa, o Português, o Espanhol...
Este começa no Porto e vai andando sempre pela costa, até Caminha, depois Baiona, Vigo e por aí fora. É um caminho pequeno, mas uma verdadeira viagem.
A minha começou num mail. Depois passou para um mapa e só depois se iniciou, literalmente.
Como sempre, tive o frenesim da viagem, aquela excitação que talvez nasça do trocar o previsível pelo desconhecido, da antecipação do prazer de ver e descobrir coisas novas.
Raramente penso nisto mas, afinal, o que é uma viagem? Onde começa? Como nos transforma?
E o que distingue uma viagem duma peregrinação?
Que espécie de viajante é o peregrino - que espero encontrar tantas vezes nos próximos dias?
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