Siestas on the train...
Lençolinhos no comboio, é no que dá: da vizinha do lado aos meus filhos, tudo a dormir!
Nestas alturas o desenho tem outro sabor...não tenho ninguém à minha espera e, graças à cortina azul, também não tenho papagaios de pirata por cima do ombro.
A paisagem foge rapidamente, mas não faz mal. É bonita!
Manoj
Quando viu que eu tinha desenhado o Avinash, o Manoj pôs-se em pose, de braços cruzados à minha frente, a pedir que o desenhasse de forma pouco subtil. Não tenho jeito nenhum para caras, mas achei graça, enchi-me de coragem e lá vai. Quando lhe mostrei, fez um sorriso rasgado e, orgulhoso, pediu se podia ir mostrar à mulher. Acabei por desenhá-la depois na mesma folha. Assinaram, também em hindi ( língua indo-ariana falada por derivada do sânscrito e falada por 70% dos hindus) e em urdu (de influência persa turca e árabe), que têm letras muito bonitas.
Se o comboio aproxima as pessoas e facilita interacções, experimentem viajar aqui com um caderno e uma caneta na mão:)
"Come with me", disse o Avinash
Quando viu que eu estava a desenhar de pé, o Avinash disse para eu me sentar ao pé dele. É muito novinho, pertence ao staff do comboio e trabalha sempre as 55 horas de viagem que ligam Alappuzha a Dhanbad. O seu trabalho é dar e recolher a roupa de cama dos passageiros. É muito simpático. Quando lhe dissemos que achávamos impressionante haver tanta comida a bordo, sempre quente a toda a hora sem parar, o Avinash perguntou entusiasmado:
- Do you Want to see the kitchens? Come with me...
Não foi preciso perguntar duas vezes.
E assim nos levou, comboio fora, carruagens e carruagens umas atrás das outras, até à última.
O calor e o cheiro a fritos e a especiarias iam sendo cada vez mais intensos. Tinhamos enfim à nossa frente a maior e mais peculiar cozinha que já alguma vez vi. Era todo um vagão com tachos e panelas de tamanho incalculável, dezenas de homens afogueados em tronco nu com panos enrolados na cabeça, fogos intensos acelerados com pedras incandescentes, fumos, vapores e muita muita energia. Uma maravilha que não pude desenhar :((
Voltei ao "meu posto" e desenhei o imenso comboio numa das suas mil paragens: Vellore Juntion
Tchai masalaaaaaaa...
Pouco passava das seis da manhã. O comboio iria viajar 55 horas seguidas, mas só fariamos 15, e chegariamos a Chennai , com sorte, não muito depois das dez da noite.
Escolhemos a "Second Class AC", uns compartimentos com assentos que se transformam em camas e dois beliches, separados do corredor apenas por umas sedosas cortinas azuis.
Cheios de sono, o Vasco o Pedro e o Luís deitaram-se imediatamente, ainda antes de nos terem trazido cobertores, lençois e fronhas brancas, tudo imaculadamente lavado e engomado.
Assim que o comboio arranca, começa o desfile ininterrupto de funcionários do comboio que apregoam doce e melodicamente o que têm para vender: chá, café, Masala Chai, (chá com cardamomo, cravo, canela, anis , gengibre e leite) etc.. Ao fim da manhã, os pregões mudam e o que se ouve agora é um cantarolar de red omelet, veg curry, chicken biryani, veg biryani, chicken curry, samosa que surpreendentemente dura toda a viagem e que é impossivel não ouvir na minha cabeça, ainda hoje, sempre que penso neste dia. Há memórias de vários tipos. A mais forte desta viagem é seguramente a auditiva!
Janelas e portas, tudo aberto, ventoinhas e correntes de ar, fazem destes compartimentos sem ar condicionado um local fresco, onde praticamente só viajam homens, comodamente sentados ou deitados, mas ....todos com os pés ao léu :).
O comboio abana muito, os riscos ficam tremidos, tenho cinco pares de olhos a espreitar despudoradamente o caderno por cima dos meus ombros, mas não será isso que me impede de tentar mais um desenho:
Estação de comboio, Shertallai, 05h30 da manhã
Dia da viagem de comboio de Shertallai para Chennai. Chegámos à estação muito cedo, ainda o sol não tinha nascido. Fiz este desenho na plataforma onde usually, but today we don't know pararia o comboio. Pouco a pouco as pessoas foram chegando e rápidamente a plataforma em frente ficou cheia. Com malas ou sem elas, toda a gente passa a linha dum lado para o outro, com naturalidade, por cima dos carris...
A vida nas margens
Deslizando e olhando as margens, as horas vão passando. E a vida destas pessoas vai decorrendo, com naturalidade. Como será viver assim - nesta intrincada rede de rios, estuários e canais - na água, da água e para a água? Como será o passar dos dias e das noites ? Quantas vezes acenam e sorriem alegremente para quem passa? É a pensar em tudo isto que vou calmamente fazendo os meus desenhos, um atrás do outro, tentando apanhar tudo o que consigo, nem que seja o barco da polícia :)
Houseboats
Viajar um dia inteiro, de manhã à noite pelos canais é uma experiência única. A viagem começa nos canais mais largos, onde a paisagem é deluxuriantes palmeiras e imensos arrozais.
Tudo é tranquilidade e silêncio à nossa volta!
Com o passar do tempo, os canais começam a afunilar, tornam-se cada vez mais estreitos e cruzamo-nos de perto com as pessoas que aqui vivem nos barcos e nos acenam alegremente.Marari Beach
Viemos dois fins de tarde a esta magnífica praia tropical, selvagem, de areia branca e mar agitado onde as sombras debaixo das palmeiras convidam, entre dois banhos, a uma sesta ou a... um desenho. Optei pela segunda hipótese, que a sesta não me atrai.
Os homens em tronco nu, no desenho, não estão de fato de banho. Estão de lunghi - uma espécie de saia, que usam sempre, feita com um pano enrolado na cintura. Também as mulheres e as crianças se passeiam (e tomam banho!) vestidos. Aqui não há bikinis nem burquinis !
Homens, mulheres, crianças, velhos, novos, hindus, católicos, muçulmanos, freiras, todos contribuem para dar à praia um colorido especial, que tentei apanhar em mais um dos meus mal amanhados cadernitos desdobraveis.
Para quem gosta de desenhar pessoas, está-se aqui como nas nuvens :)
Os meus "cadernos" do Kerala
Nesta viagem, como já referi, levei um caderno da Ketta (maravilhoso, claro!) mas, antes de partir, tive a sábia intuição de que não me iria chegar.
Colei então, à última da hora, uns amontoados de restos folhas que tinha em casa (bem à matroca, como sou "especialista"!), a que não posso chamar cadernos - e aos quais espero que as Kettas, Sofias e Marilisas desta vida nunca ponham a vista em cima :)) - mas que, tenham que nome tiverem, me vieram a dar muito jeito! Não há pior que querer desenhar e não ter onde, não é?
Hesito em pôr aqui tudo o que para lá desenhei. É monótono e cansativo. mas acho que não tenho outro remédio pois para mim o blog é, também, como uma grande estante, um sítio onde guardamos ordenadamente tudo aquilo de que não nos queremos desfazer e não sabemos onde pôr...
No final o resultado é mais ou menos assim:
Colei então, à última da hora, uns amontoados de restos folhas que tinha em casa (bem à matroca, como sou "especialista"!), a que não posso chamar cadernos - e aos quais espero que as Kettas, Sofias e Marilisas desta vida nunca ponham a vista em cima :)) - mas que, tenham que nome tiverem, me vieram a dar muito jeito! Não há pior que querer desenhar e não ter onde, não é?
Hesito em pôr aqui tudo o que para lá desenhei. É monótono e cansativo. mas acho que não tenho outro remédio pois para mim o blog é, também, como uma grande estante, um sítio onde guardamos ordenadamente tudo aquilo de que não nos queremos desfazer e não sabemos onde pôr...
No final o resultado é mais ou menos assim:
Alappuzha
Quando é este o cenário que se vê ao acordar, durante o pequeno almoço, ao fim do dia e ao jantar, como é possível resistir sem desenhar? Um atrás de outro, fui fazendo desenhos, a várias horas do dia, com várias luzes, diferentes vagares, com mais ou menos barcos, com pessoas ou sem elas...Tão bom...
A árvore de Cochim
Kochi é muito assim: pequenas ruas fortemente arborizadas, com (ruínas de) casas coloniais inglesas, portuguesas e holandesas. Perto de nós havia um imenso descampado, com uma enormíssima árvore que não sei dizer a espécie, cujas raízes faziam de bancos e a compacta copa dava sombra a toda aquela espécie de praceta. À sua volta iam acontecendo várias coisas ao longo do dia, sempre diferentes conforme as horas: treinos de futebol, reuniões de adolescentes, torneios de criquete, encontros de bicicletes, pausas de jovens vindos das escolas, com as suas impecáveis fardas azuis a que não faltam lacinhos nas tranças das meninas. Não me cansava de passar por ali. Parecia um filme. Por mim, ficaria horas só a ver toda esta vida! Não fossem os mosquitos, que me comeram viva enquanto fiz este desenho, e acho que teria feito muitos mais...
Ernakulam
Ernakulam é outra das "ilhas" de Cochim. Ao longe, vista do ferry, parece pacata. Quando se desembarca porém, não restam dúvidas de que é a maior, a mais populacional, comercial e agitada de todas.
Não resisti a um esboço muito rápido, quase em andamento, do mercado quente e abafado, tapado em busca de sombras por enormes plásticos azuis.
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